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A coisa mais perigosa que uma mulher pode fazer na vida é ficar em casa

UOL

26 Junho 2025

Histórias do Mar - Tamara Klink - foto 6 / Imagem: Divulgação

Eles vão dizer que não devemos porque é perigoso. Vão dizer que não podemos porque somos vulneráveis. Vão dizer que nossos sonhos são delírios e que não conseguiremos. Está implícito, mesmo que não digam, o que esperam da gente: que fiquemos em casa, que não ousemos ir longe, que nos resguardemos para que possamos cumprir nossos destinos de mulher: cuidar de todos à nossa volta.

Nossas aventuras são entendidas como ofensas e desaforos. E quando uma de nós não volta para casa, bem, eis aí o cenário perfeito para que nos digam: não avisamos? Sosseguem.

Mas vejam que curioso: a coisa mais perigosa que uma mulher pode fazer na vida é ficar em casa.

Em números aproximados medidos ao longo dos últimos dez anos: quase 70% dos casos de violência física são cometidos por companheiros e ex-companheiros, familiares, amigos, conhecidos ou vizinhos. Esse mesmo grupo de pessoas conhecidas comete mais de 60% da violência psicológica e cerca de 40% da violência sexual. Estupros: mais de 60% dos crimes ocorrem dentro de casa.

Mais perigoso do que fazer trilha às margens de um vulcão é ficar em nossas casas. O vulcão Rinjani, onde Juliana morreu, contabilizou oito mortos desde 2020. No mesmo período, no Brasil, mais de 16 mil mulheres foram vítimas de feminicídio.

Juliana Marins era viajante. Gostava de ver o mundo, de caminhar com os próprios pés. Jovem e aventureira. Tinha a vida pela frente. Morreu fazendo o que amava fazer. Dizem os nativos daquela região que levou Juliana que o vulcão Rinjani é sagrado e também um portal. Por ele, passariam os maiores entre nós. É um conforto pensar assim. Também conforta achar que, havendo continuidade, Juliana está em paz. Talvez ela, se pudesse, nos dissesse: continuem caminhando, continuem andando e descobrindo o que move vocês.

Como registrou uma das cartas escritas pelos jesuítas que vieram ao Brasil colonizar a população original depois da invasão portuguesa: é impossível doutrinar um povo em deslocamento constante.

Não seremos mais colonizadas desde que sigamos caminhando. Juliana partiu cedo demais, mas há milhões para seguirem seus passos. Tamara Klink continua navegando, Aretha Duarte continua escalando, Jessica Cox, que não tem os dois braços, continua pilotando aviões. Abrir a porta de casa e sair para o mundo não é apenas o que queremos: é o que pode nos salvar de violências.

Juliana Marins, presente.

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