
Copa do Mundo de 1950: Brasil 1 x 2 Uruguai: com o goleiro Barbosa no chão, os brasileiros Augusto [esq.] e Juvenal observam o segundo gol uruguaio, marcado por Alcides Ghiggia / Imagem: Reprodução
O escritor uruguaio Eduardo Galeano foi uma dessas pessoas que enxergou o futebol em todas as suas dimensões, percorrendo toda a geografia dos céus e infernos desse esporte em palavras e ideias. Essa história quem conta é ele, e aqui faço apenas o papel de Hermes, o mensageiro dos Deuses.
Na final da Copa de 50, assim que a vitória uruguaia foi consolidada, os jogadores do time campeão iniciaram uma festa alucinada. Do vestiário, foram para as ruas do Rio beber e celebrar. Menos um deles.
Obdulio Varela, o grande heroi entre os herois da improvável conquista, saiu sozinho pelo Rio para olhar nos olhos dos derrotados. Não para infernizá-los ou debochá-los, mas para abraçá-los.
Ele contou a Galeano a seguinte história: Eu não consegui celebrar. Alguma coisa em mim era tristeza, então saí da festa e fui andar pelas ruas. Entrei nos bares, eu os vi chorando. No estádio, eu os tinha odiado. Quando eram 200 mil pessoas em uma só voz, eu os odiei. Mas depois, quando eram um a um, eu os vi como eu.
Eles estavam chorando e eu os abraçava, bebíamos juntos uma cerveja, dávamos umas tragadas. Eles diziam que a culpa era de Obdulio, mas eu não revelava que Obdulio era eu. Eu apenas os abraçava, e assim passei a noite: abraçado aos vencidos.
Talvez a mais bela história do futebol? Sim, muito provavelmente. Aqui Galeano conta o que disse a ele Obdulio.