
Fernando Diniz, técnico do Fluminense, beija troféu do Campeonato Carioca / Imagem: Jorge Rodrigues/AGIF
Fernando Diniz, treinador do Fluminense, deu entrevista longa a André Hernan. Uma entrevista diferente do que temos visto protocolarmente. Desapressada, pausada, pensada, elaborada.
Não conheço Fernando Diniz, mas tenho dele boas impressões.
Fala um discurso que parece sincero, palavras que escapam do lugar comum futebolês, citações inusitadas. Dessa vez ele foi de Guimarães Rosa: viver é perigoso.
Poderíamos falar de outro jeito: jogar com medo de perder é perigoso. Talvez Diniz concordasse com essa frase.
Na entrevista, ele fala do medo que muitos jogadores têm de errar um passe e como ele trabalha para desarmar esse medo.
Tenho frequentado alguns fóruns gringos de debate sobre tática e me surpreende ver a forma absolutamente encantada com que se fala do trabalho de Diniz.
Os métodos táticos do treinador tricolor são vistos como uma alternativa ao futebol posicional que muitos consideram tedioso, conservador e extremamente europeu.
Diniz é citado como alguém que pode abrasileirar o jogo, resgatar a poesia diminuindo a prosa.
O Fluminense é analisado sob vários pontos de vista dentro da chave da ocupação do campo e do toque de bola. Um futebol que preza a relação entre os jogadores mais do que o espaço que cada um deve ocupar em campo.
No futebol posicional, a criatividade do jogador fica limitada. Há funções táticas que devem ser preenchidas antes de mais nada.
No futebol relacional, a criatividade é trazida para o centro do jogo. Vale mais o talento do que o controle. Mais a relação entre os corpos em movimento do que o fatiamento da arena em zonas muito bem delineadas.
Não há quadrados, losangos, triângulos que se movimentam em sincronia. Quem for traçar uma forma geométrica para o Fluminense com a posse de bola vai encontrar alguma coisa parecida com o desenho de um gengibre.
O jogador ganha autonomia e a gente vê com clareza que, como na vida, a única relação possível entre liberdade e segurança é a contradição: querer uma coisa é abrir a mão de outra.
Claro que tudo isso só poderá entrar para a teoria tática do jogo se esse time conquistar um título de expressão. Antes disso, dinizistas como eu serão chamados de ingênuos, de inocentes, de românticos.
Vamos ver para onde esse rio correrá.
Selecionei abaixo algumas das melhores frases de Diniz para Hernan.
Não estão citadas literalmente, mas da forma como eu as entendi.
Quem quiser ver o papo na íntegra pode clicar aqui.
Com a bola, Fernando Diniz:
Joguei futebol para aprender a ser técnico.
[É cruel achar que] jogador só é ser humano se ganha o jogo.
No futebol é difícil lidar com os maus momentos mas também com os bons momentos.
Meu melhor é dar treino. Sou minha melhor pessoa quando dou treino.
Futebol é a vida em movimento (minha frase predileta)
As taças não são mais importantes do que as relações que a gente constrói.
Meu foco é o jogador. É uma vida muito sofrida e [uma carreira] que acaba rápido. Eles têm a ilusão de que não vai passar rápido. Jogador é uma pessoa que precisa de muito apoio.
Sobre ir para a seleção: "Minha seleção é o Fluminense"