Paulo Henrique Ganso fez um jogo perfeito na decisão contra o Flamengo. A bola não parou em seus pés. Era chegar nele para encontrar naquele corpo uma inteligência fenomenal que dava imediatamente um novo, e certeiro, destino à esfera. Teve calcanhar, teve letra, teve olhar para um lado e tocar para o outro, teve movimentação sem bola - teve até perder a bola e voltar para recuperá-la no jogo limpo. Mais de uma vez.
Ganso parece querer nos mostrar que futebol é arte a despeito do que tentem fazer com o jogo. E, a cada toque, a cada movimentação, ele também diz que a arte pode vencer.
Quando o jogo estava empatado em 1x1 e o Fluminense foi bater um penalti que poderia colocar o tricolor na frente. Quem estivesse prestando atenção no que dizia o sagrado manifestado no Maracanã nesse dois de abril teria recomendado que Ganso batesse. Mas Cano pegou a bola e, cobrando mal, não deixou que a torcedora e o torcedor tricolor pudessem relaxar. Era bola para Ganso. Era ocasião para consagrar o melhor em campo.
Não temos como saber se o Fluminense seria campeão sem Ganso hoje. O time jogou muito. Nino e Manoel seguros na zaga. André e Yago absolutamente certeiros na marcação. Calegari e Cris Silva, nas laterais, defendendo e apoiando com talento. Cano implacável apesar do penalti perdido. É um time que vem ganhando corpo e alma. Apesar disso eu palpitaria que, sem Ganso, as chances do título seriam bem menores.
Pouco antes dos 25 do segundo tempo, Abel tirou o craque que já aparentava estar mais cansado do que os demais. Quem sou eu para questionar a decisão do treinador campeão? Só acho que teria sido poeticamente justo que Ganso tivesse a chance de fazer ainda mais.
Por ele, pelo futebol, por todas e todos nós.
Nos pés de Ganso, a totalidade da beleza, da inteligência e da potência do futebol brasileiro.