(Fechar)

O futebol feminino e a matada no peito

UOL

26 Setembro 2021

Victoria Albuquerque comemora após marcar o terceiro gol do Corinthians sobre o Palmeiras na final do Brasileirão / Imagem: FERNANDO ROBERTO/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Como você mata uma bola no peito?, me perguntou um colega de jogo logo depois de eu executar a manobra durante uma pelada. Foi a primeira vez que eu entendi que alguns homens ficavam inquietos e curiosos quando matávamos a bola no peito. Não tive tempo de responder como uma mulher é capaz de matar a bola no peito porque, afinal, a bola estava em jogo. Quando o jogo acabou, eu fui até meu amigo e respondi com uma pergunta: como você pedala uma bicicleta? Ele riu e assim me deu a impressão de ter entendido.

Mulheres matam a bola no peito porque a bola é encaixada acima dos seios, e quem assistiu a final do Brasileiro feminino viu quando Victoria fez exatamente isso antes de emendar, de puxeta, para fazer o terceiro gol do Corinthians na partida.

Não há, com efeito, nenhum fundamento que uma mulher seja incapaz de executar no futebol. Com pouco tempo de vida formal, o futebol feminino mostra, para quem estiver a fim de ver, que a capacidade técnica não deixa a desejar para a dos homens. Mesmo que não sejamos encorajadas a praticar futebol na infância, na juventude ou em qualquer outra fase da vida. Mesmo que tenhamos que fazer isso quase clandestinamente, e muitas vezes nos misturando a homens.

Pouco antes de matar no peito e, com a puxeta, fazer um gol, Victoria tinha executado uma bicicleta perfeita dentro da área, num cruzamento de Adriana.

A matada no peito é uma das minhas manobras prediletas no futebol. Encaixar a bola ali logo abaixo do pescoço, escutar o barulho que ela faz em contato com o peito e ver a bola deslizando em direção ao chão (quanto mais perto do corpo, melhor a matada). A estética da arte de matar no peito é incomparável.

Há quem diga que a matada no peito é um fundamento muito nosso — assim como o drible. De fato, tivemos grandes matadores de bola no peito, como lembrou Ruy Castro em coluna recente: Domingos da Guia, Luis Pereira, Pelé... e agora seria justo acrescentar Victoria Albuquerque, a atacante corintiana.

O Corinthians venceu o Palmeiras com excelência e autoridade. O segundo jogo da final, ao contrário do primeiro, foi um jogo aberto, ofensivo e atraente, especialmente no primeiro tempo. O Corinthians, com sua camisa roxa em homenagem às lutas feministas, se firma como o time mais forte e organizado do Brasil. Adriana, Yasmin e Victoria são craques e é um prazer ver esse time jogar sem o freio de mão puxado.

Representamos 53% da massa corintiana, segundo pesquisa encomendada pela diretoria do time. Enfim, estamos sendo vistas, incluídas, representadas. É o começo de uma travessia que nos levará muito mais longe. Vai, Corinthians. Vai, futebol feminino.

Ver Mais

Revista Trip

2021

Deixa te dizer onde dói em mim

Ver Mais

UOL

2021

Fortaleza, meu amor

Ver Mais