
Jogadores do Fluminense comemoram gol diante do River Plate, na Libertadores / Imagem: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC
A torcida do Liverpool vaiou sonoramente o hino da Inglaterra no dia da coroação do Rei Charles.
Não houve um ensaio para isso, não houve um chamado nas redes sociais. A torcida vaiou de improviso e com o fígado o tradicional "God Save The King" (era Queen até ontem).
O time do Liverpool tem uma história ligada à classe trabalhadora.
O treinador do Liverpool - Jurgen Klopp - já se declarou inúmeras vezes como um socialista (aliás, recomendo a leitura de sua autobiografia).
Essas coisas não acontecem ao acaso.
A massa não se une em um manifesto por inspiração divina.
Eles e elas estão ali defendendo algumas bandeiras. E vaiar a Coroa é parte da luta operária.
A monarquia britânica, nem é preciso ir muito longe nas pesquisas, está diretamente ligada a alguns dos maiores crimes já cometidos contra a humanidade.
Saques, imperialismos, colonialismos, genocídios, opressões, riquezas roubadas.
A Inglaterra vive hoje inúmeras crises sociais, assim como todos os países liberais e ultra-liberais, e a Monarquia segue ostentando e explorando.
A torcida do Liverpool, com a vaia, colocou o dia da coroação em contexto para boa parte do mundo que via, pela TV, o que parecia ser uma festa emocionante.
Klopp deu uma declaração diplomática ao final do jogo, mas a verdade é que assim como a população celebrou a morte de Margaret Thatcher, a torcida avisou que a coroação de um novo rei não tem nada de bacana, de bonito, de decente.
Rituais são altamente atraentes e é fácil que nos deixemos comover por eles.
Por isso é importante que um grupo de homens e de mulheres nos chamem para a realidade.
Mas a política não encontra o futebol apenas nas arquibancadas.
Há esquemas táticos que são igualmente manifestos políticos.
Vejamos o Fluminense de Diniz.
Não há hoje no mundo um sistema tão comunitário.
Do "um" ao "onze" estão todos ligados por um tecido de solidariedade que se movimenta em bloco e é feito de trocas constantes.
O erro de um é o erro de todos e até a linguagem de Diniz na coletiva, lembrando que é uma infantilidade querermos que o time sempre acerte e jamais erre, é revolucionária.
Um futebol despolitizado simplesmente não existe.
A questão é saber o que aquele conjunto de homens ou de mulheres está comunicando em campo - e que tipo de voz é aquela que vem da arquibancada.