
Stephanie Frappart foi a árbitra de Costa Rica x Alemanha, jogo da Copa do Mundo / Imagem: Tom Weller/picture alliance via Getty Image
A estreia de mulheres apitando um jogo de Copa do Mundo masculina chama para algumas reflexões importantes.
A primeira delas, e a mais direta, é o feito histórico que quarteto de árbitras representou para todas as mulheres do mundo, gostem ou não desse jogo.
A segunda é que talvez essa seja uma conquista — a de sermos juízas de futebol — que mais se relacione com a possibilidade de falarmos sobre erros.
Não existe no futebol figura mais detestável do que a do juiz e dos auxiliares. É certo que eles cometerão erros e que alguns desses erros nos levarão à loucura.
É, portanto, certo que as mulheres que apitam acabarão errando muito.
Isso se deve ao fato de essa ser uma profissão que precisa lidar com o erro em doses públicas e fartas, e as mulheres não estão equipadas com um chip anti-erro.
Esse aspecto da luta feminista me parece essencial: o direito ao erro.
Não temos isso hoje.
Uma mulher, quando erra, erra em nome de todas as mulheres. "Ah, tá vendo! Mulher não sabe apitar (dirigir, fazer contas, comandar, pilotar etc etc etc).
Um homem que erra, erra sozinho. Uma mulher que erra, erra em nome do gênero feminino.
É cruel porque poder errar é fundamental para amadurecer.
Reconhecer o erro, entender motivos, buscar crescer.
Faz parte da construção de nossas subjetividades, é o que nos torna mais fortes e experientes, é o que nos agiganta e aprofunda nossas noções de solidariedade.
Deve ser muito bom poder errar por si mesmo e não em nome de uma classe inteira. Com a luta, chegaremos lá. Por nossas filhas, netas, bisnetas.
A estreia de mulheres apitando um jogo de Copa do Mundo masculina deixa a gente mais perto desse imenso privilégio que é poder errar de forma pessoal e, assim, tentar corrigir a rota depois.