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Em defesa do grito de olé mesmo que seja contra o meu time

UOL

24 Abril 2022

Torcida durante partida entre Palmeiras e Corinthians no estádio Arena Allianz Parque pelo campeonato Paulista 2022 / Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Vou ousar discordar de Abel Ferreira, que não gostou dos gritos de "olé" no jogo de ontem contra o Corinthians e, numa mesma ousadia, defender o olé da torcida palmeirense contra o meu time durante um triste sábado de carnaval em Barueri.

Para Abel, os gritos de "olé" talvez indiquem um desrespeito com o rival e por isso ele pede que a torcida não faça, mas eu argumentaria que é justamente o oposto.

Para defender a ideia preciso explicar o significado do grito de "Olé". A escritora Elizabeth Gilbert, autora de "Comer, Rezar e Amar", contou em palestra para o TED em 2009 como o "Olé" surgiu.

Séculos atrás, nos desertos do norte da África, pessoas se reuniam em volta do fogo nas noites de Lua cheia para dançar e cantar por horas e horas até o dia nascer. Havia ocasiões nas quais um dos dançarinos alcançava um lugar de transcendência que podia ser notado por todos e todas. Naquele instante ficava evidente que a pessoa que estava dançando já não estava mais na categoria dos humanos e estava sendo entusiasmada por alguma coisa da ordem do sagrado. Nesse momento, todos os que estavam assistindo ao fenômeno passavam a reconhecer verbalmente o que viam e gritavam: Alá, Alá, Alá (Deus, Deus, Deus).

Quando os mouros invadiram o sul da Espanha eles levaram o costume com eles e, ao longo dos séculos, a pronúncia mudou de "Alá, Alá, Alá" para " Olé, Olé, Olé". É um "bravo" coletivo, explica Gilbert.

Um "bravo!" que reconhece ali a presença de alguma coisa sagrada, divina, inexplicável.

Vou defender a ideia de que esse time de Abel justifica que a torcedora e o torcedor reconheçam ali alguma coisa divina. Ganhar de rivais como o Palmeiras tem ganhado não é da dimensão do terreno. É óbvio que estamos falando de uma torcida em estado de graça. Por que não aproveitar o momento? Por que não chamar as coisas pelo nome que elas têm?

O que me leva a contar uma outra história rápida. Nela, o aprendiz se aproxima do Xamã e diz que sua vida está difícil, que nada dá certo, que ele está desesperado. O Xamã olha atentamente e diz apenas: vai passar.

Tempos depois, o mesmo aprendiz volta ao Xamã e diz que ele tinha razão. A vida tinha entrado no eixo, tudo estava maravilhoso. E o Xamã diz apenas: vai passar.

Tudo, incluindo a gente, vai passar. Então, caros e caras colegas palmeirenses, gritem mesmo. Gritem o mais alto que puderem. Porque um dia vai ser o nosso lado da arquibancada que estará gritando "Olé, Olé, Olé" contra vocês. Eu estarei lá gritando tão alto quanto meus pulmões e cordas vocais permitirem - e vai ser divino.

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