Fernando Diniz foi campeão. Seu time, além de encantar, venceu finalmente um título.
Ficam para trás as cobranças: "Joga bonito, mas não ganha nada". "Do que adianta ter a bola e não vencer?".
Pois aí está.
Venceu imenso, como diriam em Portugal.
Imenso.
Quatro a um — fora o baile.
O que dirão agora?
Que era apenas o carioquinha?
Era mesmo apenas um título estadual, mas o Fluminense foi brilhante do começo ao fim e venceu o poderoso Flamengo.
Diniz fez um time que joga e empolga.
Que cria e inspira.
Que toca e se desloca.
Que não rifa, não apela, não se apequena.
De onde ele tirou essas ideias?
De nossa matriz futebolística.
Todo mundo querendo imitar o que fazem os europeus e Diniz dizendo "não quero isso, vou fazer diferente".
Foi buscar na nossa cultura um jeito de existir em campo.
Toques curtos, toques rápidos, toques em movimento, toques de primeira.
Incentivo ao drible, à ginga, à criação.
É um jogo entre iguais. Uma parceria entre camaradas. Um corre pelo outro. Um luta pelo outro. Uma comunidade em campo.
O Dinizismo, assim com maiúscula mesmo, é o futebol brasileiro na alma e na veia.
Fernando Diniz, a despeito das inúmeras críticas, seguiu fiel aos seus valores.
Recuperou Ganso. Fez Cano ser o artilheiro que é. Formou André, o melhor volante do Brasil. Ajustou Marcelo num time já montado. Incentivou Fabio a jogar com os pés e Arias a chamar a responsabilidade para si.
Elevou Nino à base defensiva acima de qualquer suspeita, e capaz de jogar com múltiplos parceiros na zaga: Manoel, David Braz e até — meu Deus — Felipe Melo.
Diniz é a cara do futebol coletivo, do jogo operário, do jogo descolonizado.
Quando ele vence, vencemos todos. Quando ele encanta, sentimos todos.
Quando o Fluminense de Diniz joga, afetos circulam potentemente, largamente, livremente. É o que o futebol faz de melhor: provocar sentimentos. Nos mostrar que estamos vivos. Por alguns minutos, dar sentido a essa experiência maluca que é existir.
Taças deveriam ser consequência disso e não objetivo primário a despeito de métodos e conteúdos.
O objetivo é sentir, viver, vibrar, delirar.
O Fluminense de Diniz em 2022 não levantou caneco (o Carioca foi vencido por Abel), mas posso apostar que seu torcedor e sua torcedora foram felizes.
Uni-vos, portanto.
O que temos a perder além das correntes que nos impedem de criar, de inovar, de ousar?
Parabéns, Diniz. Foi bonito de ver.