Marta sai de cena sem uma Copa do Mundo para chamar de sua. Sai de cena deixando para a história as mais sinceras lágrimas e a mais honrada tristeza. Parece uma dessas injustiças incompreensíveis. E talvez seja. Mas essa análise só pode ser feita por quem fechar a lente no que acontece na superfície do instante. E a vida é mais.
Marta não nos deu uma Copa, mas nos deu o futebol. Deixou com a gente a certeza de que se os Ingleses regularam esse jogo, a gente ofereceu a ele aquele borogodó sem o qual o futebol seria chato, previsível, conservador. Presenteou uma nação de mulheres com a consciência de que não apenas podemos jogar, mas podemos brilhar e conquistar o mundo, que se rende a nossos pés e nos chama de rainhas.
Marta fez pelo jogo mais do que poderíamos sonhar. Compactou num presente cheio de camadas profundas a genialidade de Sissi, a exuberância de Formiga, a garra de Cristiane, a inteligência de Pretinha. Como um vendaval, levou para as meninas de cada cantinho do Brasil a imensa riqueza que é poder sonhar.
Marta alargou horizontes, expandiu o campo do possível — e isso vale infinitamente mais do que uma Copa do Mundo.
Não sei se ela vai jogar na Olimpíada em Paris. Quem sabe. Mas não importa. O que ela fez até aqui já vale muitas vidas.
Não veio o título, mas um pouco de Marta segue nos pés de Shaw, de Cox, de Walsh, de Popp, de James.
Um pouco de Marta pulsará no coração de toda menina e de toda mulher que pegar uma bola e entrar num campinho de terra.
Um pouco de Marta estará nas mãos da capitã da seleção que vai levantar a taça em Sidney.
Um pouco de Marta seguirá ecoando pelos estádios que receberem jogos do futebol feminino. Daqui até a eternidade.
Por isso, só podemos dizer a ela “muito obrigada”.
Obrigada por tanta entrega, tanta resistência, tanta beleza, tanta correria, tanta gentileza, tanta luta, tanto amor.
E desculpa por não termos começado a organizar essa bagunça um pouco antes para, com a arrumação, poder criar condições para que você pudesse colocar uma Copa na sua prateleira.
Não se lamente por nós.
Na nossa prateleira você deixou os maiores presentes de todos: sentido à luta e significado à vida.