
Camisa amarela da seleção brasileira / Imagem: Lucas Figueiredo/CBF
Uma eliminação vergonhosa e dolorida para a Jamaica.
Ou deveríamos dizer: mais uma.
Porque foram vexatórias também as eliminações para a Croácia no Qatar e para Israel no sub-20.
Diante do assombro seria preciso colocar o resultado desse dois de agosto em contexto e falar de futebol brasileiro em sentido amplo.
Em comum, um Brasil que se recusa a ser brasileiro. Um Brasil conservador, posicional, sem drible, sem brilho, sem alegria. Um Brasil que se vê europeu.
A decisão de jogar dessa forma é uma decisão corporativa.
É a crença de que o jogo bonito não é vencedor e que, por isso, deve ser deixado de lado em nome de "tudo pelo título".
Imitar o que se faz na Europa, sonhar ser europeu, é o que as classes dominantes desse país tentam desde sempre, e sem sucesso ainda que sigam metralhando vidas periféricas diariamente.
Sem sucesso porque o Brasil existe e resiste nas frestas e não em suas instituições conservadoras. Existe e resiste apesar dos genocídios.
É nesses ambientes que o futebol foi por aqui reinventado. Foi esse o jogo que ganhou o mundo: um jogo com a cara do Brasil verdadeiro.
Até que, depois das derrotas em 82 e 86, decidimos que esse jogo não ganharia nada e que as escolhas eram entre jogar bonito e perder ou jogar feio e ganhar esquecendo que haveria a possibilidade de jogar feio e perder.
O futebol feminino, agora um pouco mais rico e estruturado, seguiu por esse caminho. A escolha por uma treinadora sueca é uma escolha conceitual. Está ali a escola que queremos ser.
Poderia ter dado certo? Poderia se Pia tivesse entendido quem somos.
Pia teve a chance de se misturar a nossa cultura para poder aplicá-la em campo, combinando seu vasto conhecimento com nossa identidade. Poderia ter aprendido nossa língua, captado quem é Marta no imaginário nacional, criado sistemas táticos que refletissem o que somos.
Pia nunca fez isso.
E, sempre tão fria, resolveu ser passional na hora errada: levando para o lado pessoal a convocação de Cristiane, a segunda maior depois de Marta. Implicância que nos custou muito caro.
A eliminação para a Jamaica é um duro golpe no futebol feminino brasileiro.
Mas não se fala em futebol feminino em contexto nacional. Nessa fase de nossa história, só podemos falar de futebol feminino em contexto mundial.
A Copa, a maior até aqui, segue forte e repleta de seleções que jogam muito e competem lealmente. Teremos partidas memoráveis ainda para viver.
Um dia o Brasil vencerá e então tudo será colocado em seu devido lugar. Até lá, seguimos juntas fortalecendo, aprimorando e popularizando o futebol feminino.